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Guia de identificação da fauna, flora e funga dos ecossistemas costeiros e marinhos do município de Garopaba,SC

fotografia da palmeira Butia catarinensis

Autora: Luiza Silva Junqueira

Butia catarinensis

O butiá é uma espécie de palmeira, da família Arecaceae, que se dá somente no litoral Sul Catarinense e Sul Rio Grandense, sendo assim endêmica dessa região. Um espécie endêmica (link glossário) é uma espécie que só se encontra em determinada região, sendo assim uma espécie naturalmente mais vulnerável pois suas populações se dão em menor quantidade. O Butia catarinensis é uma espécie de grande valor cultural, social e ecológico, e hoje se encontra ameaçada de extinção, necessitando de cuidados atenciosos acerca da sua conservação. 

Em certos lugares, como por exemplo nas Areais da Ribanceira, no município de Imbituba, é comum avistarmos os chamados Butiazais, que são ecossistemas diferenciados formados pela predominância dessas plantas (1) e que estão sob ameaça proveniente do desenvolvimento econômico, que envolve práticas de supressão vegetal, como queimadas ilegais. Essas práticas são consequentes da especulação imobiliária, do crescimento industrial e do turismo, fatores que impactam fortemente as Zonas Costeiras (link glossário) do Brasil.

Vamos conhecer mais desse espécie sul-brasileira? 

Em que ambiente ela se encontra? (Habitat e distribuição geográfica)

Como mencionado anteriormente, o butia catarinensis é uma palmeira exclusiva da restinga do litoral do Sul do Brasil, ocorrendo do litoral centro-sul de Santa Catarina até Torres, no Rio Grande do Sul (SAMPAIO, 2011).

A restinga, por sua vez, pode ser entendida como um ecossistema, que é composto por organismos vivos (como plantas, animais e microorganismos) e os fatores não vivos (como solo, água, ar e clima) em um determinado ambiente geográfico ou então como um tipo de vegetação que se denvolve em solos arenosos, na costa litorânea. 

Segundo Resolução CONAMA nº 261 , de 30 de junho de 1999, em Santa Catarina os butiazais ocorrem na formação vegetacional Restinga de tipo arbustiva, no estágio sucessional “primária” ou "original" e no "estágio avançado de regeneração"  que apresentam grande diversidade biológica. A Restinga (link glossário), por sua vez, é parte das formações florestais nativas e ecossistemas associados integrantes do Bioma Mata Atlântica e tem sua proteção e utilização regulamentada na Lei Federal nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006.

O butiá então, cresce entremeio às restingas, em solos arenosos, incluindo as dunas e em solos rochosos. Também é avistado em campos litorâneos, e nas áreas de transição para uma vegetação arbustiva mais densa. (Reitz 1974).

Em Santa Catarina, os  ecossistemas  de  butiazais  mais expressivos do litoral a encontram-se atualmente nos municípios de Imbituba e Laguna (1). Em Imbituba, sua presença é marcante na região dos Areias da Ribanceira, onde há também uma forte relação da planta com as comunidades locais, comentada abaixo. 

Qual a sua importância socioecológica?

O Butiá possui grande relevância socioecológica, pois faz parte dos meios de susbistência das populaçõs locais de agricultores familiares. Segundo pesquisadores de etnobotânica (link glossário), a planta tem significativa relevância econômica e cultural para as populações locais, que utilizam diferentes partes da planta para artesanato  e  os  frutos  para  a  produção  de  alimentos. Além de seu potencial de comercialização utilizando-se dos frutos como recurso alimentício, nas pesquisas, a população local ressaltou o valor lúdico, cênico, ornamental, cultural e ecológico que a planta tem, mostrando a forte relação que desenvolveram com essa espécie. 

As palmeiras servem de abrigo para espécies de fauna local e seus frutos servem de alimento para diversos animais da Mata Atlântica, como cobras, lagartos, aves - como o aracuã, roedores - como a cutia e a preá e outros mamíferos maiores, como o gambá e o graxaim. Formigas também se alimentam de seus frutos e as abelhas nativas, as mamamgavas se nutrem de seu nectar e fazem parte do processo reprodutivo da espécie. A espécie humana, por sua vez, achou diversas maneiras de preparar o fruto e os agricultores que se relacionam com a planta, mostraram o potencial da espécie para a aplicação de técnicas de manejo sustentáveis, que auxiliam na preservação da espécie e do ambiente. 

É uma planta "produto da sociodiversidade", pois carrega consigo um potencial grande de coexistencia entre as ações etxtrativistas e a conservação da natureza:

Estudos evidenciam que a permanência da comunidade local contribui para a conservação da Restinga. Em outras palavras a prática de agricultura itinerante, uso e pousio da terra, bem como a coleta de butiá em baixa escala são atividades que apresentam não apenas sustentabilidade ambiental, mas também sustentabilidade econômica para o mercado e social para a comunidade local; e consequentemente o aumento da biodiversidade local, como também a conservação da Restinga (SAMPAIO, 2011). 

Além disso, as pressões antrópicas que os ambientes costeiros estão submetidos geram uma perda genética de biodiversidade, em razão da degradação desses ambientes. Nesse aspecto, pesquisadores enfatizaram as potencialidades de espécies do  gênero  como  recurso  genético  para  as  presentes  e  futuras  gerações,  apontando  grande  potencial para programas de bioprospecção, melhoramento, conservação e manejo (1).

Quais os seus usos?

Como mencionado, a espécie representa um grande potencial de geração de renda para as comunidades extratoras locais, cujo manejo e comercialização de folhas e frutos tem sido realizado por agricultores familiares. Dentre as finalidades de uso mais conhecidas para os frutos das plantas do gênero Butia estão: geleias e doces, licores e cachaça. Porém, outros usos têm se tornado populares, como por exemplo, o uso da polpa para fabricação de sorvetes (2).

Outros usos foram relatados pelos nativos: o óleo essencial, extraído dos seus frutos, é utilizado na fabricação de sabão, as raízes tem potencial medicinal antiflamatório, sendo indicado contra ácido úrico e problemas nos rins em geral. As folhas de B. catarinensis são utilizadas na fabricação de chapéus de palha. Quanto à coleta de folhas, também foi relatado o uso passado das folhas do butiazeiro como crina vegetal, para enchimento de colchões e estofados. (2).

  • Propagação e Cultivo:

Os butiazeiros apresentam polinização cruzada, com flores masculinas e femininas (3). Pelas pesquisas, a abelha mamangava destaca-se como principal polinizador do butia.

Fenologia (desenvolvimento):

O período de floração do butiazeiro vai de agosto a abril e o período de frutificação de outubro a maio. Segundo a pesquisa etnobotânica realizada com agricultores das Areias da Ribanceira, em 2011, cada butiazeiro produz, em média três cachos (e no máximo seis) por temporada, que amadurecem em intervalos de duas a quatro semanas. Segundo um dos entrevistados, butiazeiros sob grande insolação produzem mais, pois a chuva e o calor aceleram o processo de maturação dos frutos (2).

  • Descrição Botânica:

A altura média desta espécie é de aproximadamente 2 metros. É uma espécie de Butiá com baixa estatura, se considerarmos que Butia odorata, que ocorre no Bioma Pampa, pode crescer até 9 m de altura (3). Abaixo, podemos observar uma ilustração científica da formologia vegetal da espécie, desenvolvida por Soares et al. (2015).

 

 

Curiosidade:

Os butiás são ricos em vitamina C, carotenoides, potássio e outros compostos funcionais, os quais são de extrema importância para a dieta humana (3).

Está em perigo?

Atualmente, o B. catarinensis consta na lista vermelha da flora ameaçada de extinção do estado de Santa Catarina, classificada como “em perigo” ("EN") o que significa que as evidências demonstram que enfrenta risco de extinção na natureza muito elevado (RESOLUÇÃO CONSEMA Nº 51, de 5 de dezembro de 2014) (1),  como é demonstrado na imagem abaixo, que não contempla toda a lista.

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As áreas da planície arenosa antigamente ocupadas por vegetação de restinga com adensamentos de B. catarinensis, hoje estão ameaçadas pelo crescimento das zonas urbanas e industriais, além de serem ocupadas pelo turismo (Hanazaki et al., 2012), porém em muitos destes locais, extratores de butiá dependem da espécie para compor a renda familiar (5). 

A região de ocorrência do B. catarinensis está inserida na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, onde está prevista a promoção do desenvolvimento sustentável associado à conservação da biodiversidade e a valorização da sociodiversidade, cujo sistema de gestão propõe a associação entre formas de proteção, uso sustentável e repartição de benefícios como a melhor maneira de conservar ecossistemas e espécies.

1. GANDOLFO, Elisa Serena; ANTUNES, Douglas Ladik; GARCEZ, Carmen. A DIALÉTICA SOCIEDADE-NATUREZA NAS TRANS-FORMAÇÕES DA PAISAGEM:CONSERVAÇÃO E USO DOS BUTIAZAIS NO LITORAL DE SANTA CATARINA, BRASIL. Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v. 25, n. 2, p. 145-166, out. 2023. Disponível em: https://rcgs.uvanet.br/index.php/RCGS/article/view/933/665. Acesso em: 17 out. 2023.

2. SAMPAIO, Leonardo Kumagai Antunes. Etnobotânica e Estrutura Populacional do Butiá, Butia catarinensis Noblick & Lorenzi (Arecaceae) na comunidade dos Areais da Ribanceira de Imbituba/SC. 2011. 133 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Florianópolis, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/95188/293190.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 10 out. 2023.

3. SILVEIRA, Tatieli et al. CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE Butia catarinensis. ENPOS XXII Encontro de Pós-Graduação, Pelotas, maio 2019. Disponível em: https://cti.ufpel.edu.br/siepe/arquivos/2020/CA_04113.pdf. Acesso em: 10 out. 2023.

4. SOARES, Kelen Pureza et al. Palmeiras (Arecaceae) no Rio Grande do Sul, Brasil. 2015. Disponível em:https://www.researchgate.net/publication/277891169. Acesso em: 17 out. 2023.

5. FOGAÇA, Isabela Barasuol. Etnoecologia de Butia catarinensis Noblick & Lorenzi em Laguna, Santa Catarina. 2014. 59 f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Florianópolis, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/132803/TCCIsabelaBarasuolFoga%C3%A7a.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 22 out. 2023.