O Município de Garopaba, SC se encontra localizado no litoral sul de Santa Catarina e parte do seu território pertence à Unidade de Conservação Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APA BF). A APA da Baleia Franca tem como diploma legal de criação: decreto sem nº de 14 de setembro de 2000, abrangendo o bioma da Mata Atlântica o qual abriga ecossistemas de floresta quaternária, dunas, praias, restingas e ecossistemas marinhos, abrigando também diversas espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção, incluindo espécies migratórias (ICMBio, 2018).
O litoral de Santa Catarina, onde se encontra Garopaba, é altamente procurado por turistas principalmente por seu cenário natural com a presença de mata atlântica, lagoas e praias: o município conta com diversas trilhas e caminhos que contam muito sobre a história e a identidade do lugar, sendo esses elementos essenciais para o turismo e a conservação do espaço (BOSSONI, 2019). Ademais, os diversos ecossistemas do Município apresentam uma alta diversidade biológica, oferecendo serviços ecossistêmicos que agregam também a área de lazer, cultura e turismo (ICMBio, 2018).
O território terrestre do município pertence ao Bioma da Mata Atlântica, com alto grau de biodiversidade: o bioma conta com conjuntos de formações florestais, além de campos naturais, restingas, manguezais e outros tipos de vegetação, que formam paisagens diferentes, belas e biodiversas (CAMPANILI; SCHÄFFER 2010). Ademais, o bioma da Mata Atlântica é caracterizado como um Hotspot em virtude de sua riqueza biológica e níveis de ameaça, se tornando uma das prioridades para a conservação de biodiversidade em todo o mundo (PINTO, et al., 2006).
Ainda que se reconheça a rica biodiversidade presente no município, seja através de estudos científicos, das trilhas ou dos conhecimentos e saberes tradicionais, pouco material educacional técnico e didático acerca do levantamento de fauna e flora local foram encontrados. Em uma breve pesquisa bibliográfica, utilizando-se as palavras chave “levantamento, fauna, flora, Garopaba, Imbituba", constatou-se os autores Bossoni (2019), Novais (2022), Faraco (2016) e ICMBio (2018). Esse último, sendo o Plano de Manejo da APA BF, que especifica as principais espécies que ocorrem regionalmente na UC, porém não foi encontrado algum guia técnico ou didático acerca das espécies locais, observando-se uma demanda local pelo material aqui proposto.
Dentro deste contexto, sabe-se hoje que simultaneamente a perda de biodiversidade é um dos principais problemas ambientais do planeta sendo a sua manutenção uma chave para a conservação dos ecossistemas globais, devido ao fato de que é a ampla diversidade genética das espécies de fauna e flora que proporcionam a manutenção dos serviços ecossistêmicos da natureza (CAMPANILI; SCHÄFFER, 2010).
A perda de habitat é a principal causa da diminuição da biodiversidade no mundo e a Mata Atlântica é um exemplo extremo, onde um fragmento, mesmo muito pequeno e isolado, pode ser o único lugar propício para uma determinada espécie. (CAMPANILI; SCHÄFFER, 2010).
Garopaba se encontra em uma zona costeira, estando estas inseridas como principais “Valores Naturais e Ecológicos” da APA BF (DELFINO, 2017) e essas zonas também oferecem diversos serviços ambientais, tornando-se foco de esforços de conservação, que são essenciais para a preservação da biodiversidade. Ao que tange o aumento populacional, as zonas costeiras estão dentre as áreas que serão mais afetadas: ao longo dos 20 últimos anos Garopaba apresentou elevada taxa de crescimento demográfico sendo que impulsionada pela atratividade turística da cidade (PESSOA, 2019).
Pensando-se nesse rápido desenvolvimento econômico e populacional que o município vem apresentando, se faz necessário pensar através do ponto de vista do ecodesenvolvimento, que se sustenta em cinco dimensões: sustentabilidade social; econômica; ecológica; espacial; e cultural (MONTIBELLER, 1993). Assim, delineando o fato de que o Município de Garopaba tem um forte pólo turístico, estimular o ecoturismo se mostra interessante no que tange à proteção ambiental. O ecoturismo tem suas raízes situadas na natureza e no turismo ao ar livre e envolve tanto um sério compromisso com a natureza como com a responsabilidade social (LINDBERG; HAWKINS, 2001).
Assim sendo, ao se pensar em práticas educacionais que possibilitem a conservação dos valores naturais, culturais e sociais do município, a educação ambiental se mostra fundamental para a conservação ambiental desde um lugar de construção do indivíduo, sendo um terreno fértil para aprendizagens, reflexões e mudanças de paradigmas. Nesse contexto, Capra (1996) propõe que o ser humano desenvolva sua relação com a natureza sob a ótica do novo paradigma que consiste em "uma visão de mundo holística”, também chamado de “ecologia profunda”, que reconhece a interdependência inerente de todos os fenômenos e o fato de que nós, enquanto indivíduos e sociedade pertencentes à uma rede maior que tudo conecta, somos parte integrante dos processos cíclicos da natureza, como um grande organismo vivo.
A educação ambiental tem a capacidade de aguçar essa visão ecossistêmica que Capra traz em forma de um novo paradigma, em contraponto à uma tendência preservacionista do movimento ambientalista que por vezes acaba percebendo a natureza como algo à parte do indivíduo (Braga Lovatto, Patrícia, et. al, 2011). A Educação Ambiental possui como uma de suas finalidades e características “adaptar-se à realidade sociocultural, econômica e ecológica de cada sociedade e de cada região, e particularmente aos objetivos do seu desenvolvimento” (DIAS, 2017).
REFERÊNCIAS:
(ICMBIO), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. PLANO DE MANEJO: área de proteção ambiental da baleia franca. Imbituba, 2018. 94 p.
CAMPANILI, Maura; SCHÄFFER, Wigold Bertolo. Mata Atlântica: manual de adequação ambiental. Brasília (Df): Fábio Pili, 2010. 96 p.
Pinto, Luiz Paulo, et al. "Mata Atlântica Brasileira: os desafios para conservação da biodiversidade de um hotspot mundial." Biologia da conservação: essências. São Carlos: RiMa (2006): 91-118.
DELFINO, Deisiane. OS VALORES DO TERRITÓRIO NA APA DA BALEIA FRANCA: PARA ALÉM DOS VALORES NATURAIS E ECOLÓGICOS. 2017. 9 f. Tese (Doutorado) - Curso de Plano de Manejo da Apa da Baleia Franca, Icmbio, Imbituba, 2017.
PESSOA, Manuela Bressan. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO EM ÁREAS COSTEIRAS E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS: UM ESTUDO DE CASO EM GAROPABA, SC. 2019
MONTIBELLER FILHO, Gilberto. ECODESENVOLVIMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: conceitos e princípios. Textos de Economia, Florianópolis, v. 4, n. 1, p. 131-140, 1993.
LINDBERG, Kreg; HAWKINS, Donald E.. Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 3. ed. São Paulo: Senac, 2001.
Braga Lovatto, Patrícia; Nascimento Altemburg, Shirley; Casalinho, Hélvio; Lobo, Eduardo Alexis. ECOLOGIA PROFUNDA: O DESPERTAR PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMPLEXA. Redes. Revista do Desenvolvimento Regional, vol. 16, núm. 3, setembro-dezembro, 2011, pp. 122-137 Universidade de Santa Cruz do Sul Santa Cruz do Sul, Brasil.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8. ed. São Paulo: Gaia, 2017. 551 p.